O diretor de uma empresa contrata um detetive particular para investigar o sócio.
– Siga o Pereira durante uma semana para saber o que ele está fazendo.
Uma semana depois o detetive retorna e conta:
– O Pereira sai de sua empresa ao meio-dia, pega o seu carro, vai à sua casa almoçar, namora a sua mulher, fuma um dos seus charutos e regressa para o trabalho.
O diretor comenta, satisfeito:
– Ah, bom. Tudo bem, então.
O detetive pergunta:
– Posso tratá-lo por tu?
– Claro.
– Então, vou contar a história de novo. O Pereira sai ao meio-dia, pega o teu carro, vai à tua casa almoçar, namora a tua mulher, fuma um dos teus charutos e regressa para o trabalho.
Moral da história: cuidado com o uso dos pronomes possessivos “seu” e “sua”.
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Observe esta frase:
- Tony ensinou Malu a usar o seu computador para escrever roteiros de viagem.
Computador de quem? Do Tony, da Malu ou “de você”? Melhor deixar claro:
- Tony ensinou Malu a usar o computador dela (ou dele) para escrever roteiros de viagem.
=> O pronome “seu” é ambíguo, pois pode querer dizer tanto “de você” quanto “dele” ou “dela”.
Em muitos casos, basta cortar o termo “seu” ou “sua”:
- Encontrou o seu irmão no aeroporto.
- Caiu e quebrou a sua perna
- No seu discurso de posse, novo diretor agradeceu a Deus.
O site dicionarioegramatica.com explica:
Hoje em dia, os pronomes “seu” e “sua” foram quase completamente substituídos pelas palavras “dele” e “dela” quando se referem a uma terceira pessoa, e são usados cada vez mais apenas para se referir a algo da pessoa com quem se fala (“a sua casa“: “a casa onde você mora“).
Originalmente, os pronomes referentes à pessoa com quem se fala eram “teu” e “tua“. Na medida em que o pronome “tu” foi substituído, em grande parte do Brasil, pela forma “você“, os pronomes “seu” e “sua” se tornaram ambíguos: “Vi o João com a sua mulher” pode querer dizer tanto que vi o João com a mulher do próprio João, ou com a mulher da pessoa com quem estou falando.
Por essa razão, na língua falada, para se referir à mulher de uma terceira pessoa, quase só se usam, hoje, construções com “dele”, “dela”, “deles”, “delas”. Mas a língua escrita ainda dá preferência ao pronome tradicional – o que às vezes pode causar confusão entre pessoas não habituadas a “seu”/”sua” com o sentido de “dele”, mas apenas “de você”.
Fontes:
- Escrever melhor: guia para passar os textos a limpo – Dad Squarisi e Arlete Salvador.
- Site dicionarioegramática.com
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Leia mais sobre ambiguidade nesta postagem: Aspectos estilísticos – 3-Ambiguidade
Excelente texto!!! Eu já me tornei sua fã! Estou amando os conteúdos.
Sempre peguei no pé dos meus alunos em relação ao uso incorreto do “seu e sua” nos TCCs, por exigir a norma culta.
Gostaria de saber se em outros tipos de livros publicados e na linguagem cotidiana (escrita) o uso do “seu e sua” também deve ser evitado, ou se está correto por ser considerado uma variação linguística.
Obrigada!
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Mas até o pronome “dele” pode se tornar ambíguo. Por exemplo: o aluno disse ao professor que aquele trabalho estava sob responsabilidade dele.
Dele quem? Do aluno ou do professor?
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Substituindo os possessivos de terceira pessoa (seu, sua, seus, suas) pelas formas dele, dela, deles, delas, de você, do senhor ou da senhora, a frase que ficava ambígua torna-se mais clara.
A omissão do possessivo é frequente em nomes que denotam partes do corpo, peças de vestuário, faculdades do espírito e relações de parentesco, quando se referem ao próprio sujeito. Nesse caso, o uso do artigo já denota posse.
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Muito bom!
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Cher ami,
Prière mettre sur la rubrique “grammaire portugaise”
Bien à toi
Bião
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Olá, Lamartine!
Tudo bem?
Eu não falo francês…
Abraço,
Betty
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