“Judiar” é uma palavra antissemita?

Judiar

 

 

 

 

 

 

Pergunta do leitor Ivan de Barros:

Um colunista do Jornal do Commercio de Pernambuco se desculpou com uma leitora judia que se sentiu ofendida por ele ter usado o verbo “judiar” em um comentário, pois este seria uma forma de antissemitismo. Se isso é verdade também o seria derivação como “judiação”?

 

Resposta do colunista Sérgio Rodrigues, da revista VEJA:

O colunista pernambucano citado por Ivan fez muito bem em se desculpar com a leitora. Faria melhor ainda, claro, se não tivesse empregado o verbo “judiar”, que, ao lado de “judiação” e “judiaria”, bani há muito tempo do meu vocabulário. A carga antissemita de “judiar” na acepção de “maltratar, torturar, infligir sofrimentos” é clara. As dúvidas que a expressão suscita recaem apenas, como lembra Antenor Nascentes, sobre a relação exata que ela articula entre judeus e maus-tratos. Para alguns estudiosos seriam eles os autores (pelo menos imaginários) das maldades, “num tempo em que não havia atrocidade que não se atribuísse aos judeus para os perseguir e espoliar”. João Ribeiro foi um dos que apostaram em sentido diferente, que considero mais plausível: “judiar” teria nascido com o sentido de “maltratar um judeu”, logo expandido para “maltratar alguém como se maltrata um judeu”.

De uma forma ou de outra, bastou-me conhecer um dia o que havia de odioso por trás desse verbo, figurinha fácil no português popular, para decidir que nunca mais travaria relações com ele. O fato de grande parte dos falantes entrar nessa história de forma inocente, sem intenção de ofender ninguém, não basta para inocentar a própria palavra. Nada a ver com rendição à patrulha politicamente correta: trata-se de um sentido íntimo de decência. Se é verdade que tem havido exageros até ridículos na tentativa de criminalizar em bloco as expressões que se referem à cor negra, por exemplo, como se todo charuto fosse um símbolo fálico, não se pode negar a vileza onde ela é evidente.

Trata-se de uma decisão moral que cada falante, de posse das informações pertinentes, deve tomar sozinho. Optar por não usar “judiar” ou qualquer outra palavra é completamente diferente de apoiar a tese autoritária da censura aos dicionários, que têm a obrigação de registrar até os verbetes mais carregados de preconceito, pois seu papel é retratar a língua que existe e não a que gostaríamos que existisse. Basta que apontem o que for pejorativo ou condenável, como faz o Houaiss no caso de “judiar”, observando que a palavra resulta de “antiga tradição antissemita de origem europeia”.

 

Artigo originalmente publicado no ALEF News.

 

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2 comentários sobre ““Judiar” é uma palavra antissemita?

  1. Boa noite,

    escrevo para esta caixa postal porque não achei outro meio de contato para fazer uma pergunta que acredito ser de interesse geral.

    Tenho visto com enorme frequência nas legendas de filmes e séries estrangeiras, o uso do pronome “lo” em vez do que me pareceria correto, o “lhe”. Por exemplo: “Ela sabia que não poderia resistí-lo, que aquilo era uma forte paixão” e “Começaram a se encontrar com frequência e ela parecia começar a correspondê-lo,”.

    Outra dúvida que me assalta é a colocação dos pronomes antes ou depois do verbo como nos seguintes casos em que eu acho seria sempre depois ( e na quinta frase acho que seria “o” e não “lhe”):

    1. Como seria o retorno? — se pergunta Regina

    2. Ele se dirigiu ao meliante o levantando pelo colarinho

    3. Depois de algum tempo a segurou nos ombros a olhando com atenção.

    4. Levantou o guarda-chuva o apertando com força

    5. Os cachos de cabelo desciam pelo rosto lhe deixando sedutor

    Espero não estar abusando.

    Muito obrigada,

    Odete.

    Em 28 de junho de 2016 17:35, “Blog Português sem Mistério – Betty

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