CRASE. 1-Conceito. 2-Quando não usar

1) Conceito

A crase se caracteriza pela fusão da preposição “a” com o artigo definido “a” (a + a = à). Como “a” (artigo, preposição e pronome) e “à” têm o mesmo som, está feita a confusão na hora de escrever. Ainda temos o “há”, mas isso é assunto para outra conversa.

Utiliza-se o termo crase também para designar a contração da preposição “a” com “aquilo”, “aquele” e flexões. Exemplo: Eu vou àquele lugar.

Das línguas neolatinas, a portuguesa é a única em que existe a crase.  Em espanhol, francês e italiano não tem erro, pois o artigo feminino nesses idiomas é “la”, ou seja, diferente da preposição. Exemplo: “Vamos a la playa.”, que em português seria “Vamos à praia”.

 

Princípio básico:

Não existe crase antes de palavra masculina. Exemplos: Vou a pé. / Andou a cavalo. / Viajou a trabalho.

Por definição, o artigo feminino determina apenas substantivos femininos. Exemplos: João foi à (a preposição + a artigo) escola.  / Os documentos foram apresentados às (a prep. + as art.) autoridades.

 

Macete:

Substitua a palavra antes da qual aparece o a ou as por um termo masculino. Se o a ou as se transformar em ao ou aos, existe crase; do contrário, não. Nos exemplos citados: João foi ao concerto. / Os documentos foram apresentados aos juízes.

 

Efeitos colaterais:

Veja a falta que a crase pode fazer:

  • Disse a juíza que o réu é inocente.  –  A juíza é quem fez a afirmação.
  • Disse à juíza que o réu é inocente.  –  Alguém fez a afirmação à juíza.

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Se você tem dificuldade com crase, não se preocupe, você não está sozinho. Conheço um cara famoso e inteligente, com quatro livros lançados, que tem trauma de crase. Ele desistiu, jogou a toalha. Na dúvida se deve colocar o acento grave no “a” ou no “as”, ele simplesmente não coloca em nada.

O que é pior? Errar pela falta ou pelo excesso? Acho que crase em lugar errado é pior, não tem desculpa. A falta da crase ainda pode ser explicada com um “eu sabia, mas esqueci de teclar…”.

 

2) Quando não há crase

Quando não há crase 

Exemplo

Antes de substantivos masculinos Farei isso a pedido do cliente. / Vou a pé. / Andou a cavalo. / Viajou a trabalho.

Exceção: existe a crase quando se pode subentender uma palavra feminina, especialmente “moda” e “maneira”: sapatos à Luís XV (à maneira de Luís XV ). /  Vou à (editora) Melhoramentos.

Antes de verbos

 

Tenho um assunto a tratar com você.  /  Condições a combinar. / Começou a sorrir quando dei a notícia.
Antes de pronomes em geral (pessoais, indefinidos, demonstrativos)

 

A ela, a si, a nenhuma parte, a cada uma, a ninguém, a nada, a certa hora, a essa hora, a qualquer hora.

Vai dirigir-se a toda a família a esta hora. / Não falou a ninguém.

Antes do artigo indefinido “uma”.

 

Apresentou-se a uma idosa.

 

Nas locuções formadas por substantivos idênticos. Gota a gota / cara a cara / de parte a parte.

 

Antes de expressões de tratamento, exceto “senhora” e “senhorita”.

 

Solicitamos a Vossa Excelência permissão para sair. / Dedicarei minha vida a você. / Informo à senhorita e às senhoras que o jantar está servido.
Quando se subentende uma palavra de sentido indefinido, como “uma”, “alguma”, “qualquer”, “certa”. Estava presa a [uma] terrível melancolia / Crédito sujeito a [qualquer] aprovação. No entanto, se, por exemplo,  a aprovação for determinada, há crase: crédito sujeito à aprovação da diretoria.
Antes da palavra “casa” quando se refere ao próprio lar.

 

(Observe a ausência do artigo quando nos referimos à própria casa: Saí de casa, estou em casa, passei em casa.)

Voltou a casa depois da meia-noite.

 

 

Fonte:

 Manual da Boa Escrita. Virgula, Crase, Palavras Compostas – Maria Tereza de Queiroz Piacentini.


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Betty Vibranovski

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7 comentários sobre “CRASE. 1-Conceito. 2-Quando não usar

  1. Pronome que admite artigo (aquele, aquela, aquilo, aqueloutro, aqueloutra, a qual, as quais, mesma, própria, outra, tal, senhora, senhorita, dona e madame) – há crase
    Pronome que não admite artigo (pessoais, demonstrativos, indefinidos, relativos, interrogativos e de tratamento) – não há crase
    Pronome possessivo – crase facultativa

    Curtido por 1 pessoa

  2. Olá Betty,

    Suas postagens e sua didática são um presente.
    Sou gratíssima!
    Tenho uma pergunta: e diante de nomes próprios? Como: “Pergunte a (para a) Márcia”. ou “Referiu-se a Márcia”.
    Fiquei confusa com a crase em “Vou à Melhoramentos”. Também teria em “Vou à Eletropaulo resolver isso”, por exemplo?

    Obrigada pela atenção e parabéns pela iniciativa em prol de nossa língua e pelo seu conhecimento!

    Abraço,

    Regina

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